Racismo e desigualdade traduzidos em números: Rendimento da população negra é metade da branca

Racismo e desigualdade traduzidos em números: Rendimento da população negra é metade da branca

Embora seja maioria no mercado de trabalho (53,8%), a população negra brasileira está longe da igualdade quando se fala em remuneração, postos de gerência, condições de vida e de trabalho.

É o que informa a segunda edição do estudo ‘Desigualdades por cor e raça”, elaborado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgado no início de novembro, o mês consagrado às comemorações da “Consciência Negra”.

Os números são impactantes e cumprem o papel de mostrar que o preconceito e a discriminação racial são elementos lucrativos no sistema capitalista.

Segundo o estudo, o rendimento médio mensal dos brancos é quase o dobro do que recebem os negros (população composta por pretos e pardos).

O levantamento, que levou em conta dados de 2021, constata que o rendimento médio domiciliar per capita dos brancos foi de R$ 1.866,00 mensais, enquanto os pretos tiveram rendimento de R$ 965,00 (51,7% dos brancos) e os pardos de R$ 945,00 (50,6% dos brancos). A pesquisa considera todas as fontes de renda de um domicílio. 

Se considerada só a renda do trabalho, os brancos tiveram rendimento médio mensal de R$ 3.099,00 em 2021, enquanto os pretos receberam R$ 1.764,00 e os pardos, R$ 1.814,00.

Mesmo quando a escolaridade é igual 

A pesquisa do IBGE aponta que as distorções acontecem mesmo entre os que têm igual nível de escolaridade. Em 2021, entre os trabalhadores com ensino superior completo, os brancos ganharam em média R$ 34,4 por hora, os pretos receberam R$ 22,9 (66,6% do que foi pago aos brancos) e os pardos, R$ 24,8% (72% do que foi recebido por trabalhadores brancos).

O fato de ocuparem a maior parte dos postos de trabalho (53,8%), não garante o mesmo percentual de cargos de gerência para pretos e pardos: em 2021, eles estavam em apenas 29,5% destes postos.

Desemprego 

As distorções se verificam também nos níveis de desemprego. Enquanto em 2021 a taxa de desocupação foi de 11,3% para a população branca, o número ficou em 16,5% para a preta e 16,2% para a parda. 

Maioria entre mais pobres 

Segundo o IBGE, pretos e pardos – que correspondem a 56,1% da população brasileira - continuam com menor acesso a emprego, educação, segurança e saneamento

“As diferenças estão relacionadas à maior concentração da população preta e parda na base da estrutura de rendimento", diz a pesquisa. Em outras palavras: há mais pretos e pardos entre os pobres do que entre os ricos. Eles são 74,8% da população de menor renda, enquanto são apenas 28,2% da camada de maior renda.

A proporção de pretos e pardos abaixo da linha da pobreza é quase o dobro de brancos. Segundo critério estabelecido pelo Banco Mundial, estão abaixo desta linha as pessoas que ganham menos do que US$ 5,50 por dia. Em 2021, a taxa de pobreza de pessoas pretas era de 34,5%, e a de pardos era de 38,4%, enquanto a de brancos foi de 18,6%.

Pandemia e retrocesso educacional 

Já historicamente desigual, o acesso à educação de pretos e pardos também foi mais prejudicado durante a pandemia de Covid-19. O estudo do IBGE informa que, em 2020, os percentuais de estudantes pardos e pretos de 6 a 17 anos de idade sem aulas presenciais e sem oferta de atividades escolares foram respectivamente 13,5% e 15,2%. Praticamente o dobro do percentual de brancos, que foi de 6,8%.

Moradia e saneamento 

Em 2019, ainda segundo o IBGE, 27,8% dos brancos viviam em locais sem coleta de esgoto, dentre os residentes em domicílios próprios. Entre pretos, a proporção era de 36%, e entre os pardos, 45,9%. Os números são semelhantes no acesso à rede de abastecimento de água e coleta de lixo.

Mais dados do estudo podem ser conferidos no site do IBGE:

https://www.ibge.gov.br/estatisticas/sociais/populacao/25844-desigualdades-sociais-por-cor-ou-raca

................

Dica de leitura: Pequeno Manual Antirracista 

De autoria da filósofa e ativista Djamila Ribeiro, a obra “Pequeno Manual Antirracista” (Editora Cia. das Letras, 2017) é uma dica interessante para iniciar boas leituras sobre o tema. Nela, a filósofa e ativista trata de temas como atualidade do racismo, negritude, branquitude, violência racial, cultura, desejos e afetos. 

O livro apresenta caminhos de reflexão para aqueles que queiram aprofundar sua percepção sobre discriminações racistas estruturais e assumir a responsabilidade pela transformação do estado das coisas.


Imprimir   Email