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Evento trouxe à tona assuntos ‘invisíveis’ e abriu espaço para debates e propostas
Um dia de informações, reflexões e construção de propostas sobre a saúde das trabalhadoras e dos trabalhadores da Unesp. Assim foi a experiência das dezenas de representantes das seções técnicas de saúde e das servidoras e servidores técnico-administrativos da Unesp que participaram do “Fórum Conjunto da Saúde e da Classe Trabalhadora da Unesp”, em 9/10, no campus de Botucatu.
Fruto de uma parceria entre o Sintunesp e a Coordenadoria de Saúde da Unesp (CSUnesp), o Fórum é pioneiro em mobilizar amplamente os trabalhadores da instituição para debater e colocar em evidência o intrincado cenário que culmina no bem-estar físico e emocional da comunidade, ou na ausência dele.
Na mesa de abertura, João Carlos Camargo de Oliveira falou em nome da entidade sindical. “Esse evento é histórico e representa um esforço do Sindicato e a compreensão, por parte da gestão, de que é possível avançar em benefício da comunidade”, disse. A médica Ludmila Candida de Braga, coordenadora da CSUnesp, lembrou que a base do órgão é a saúde do trabalhador. “Esperamos que o que for discutido aqui seja levado e multiplicado por vocês.”
Presente online, o reitor Pasqual Barretti saudou os participantes. “Esse é um evento democrático, por reunir profissionais da saúde, dirigentes sindicais e servidores”, destacou. “A saúde mental é um problema amplo e precisa ser prioridade. Queremos ampliar nossas estruturas nessa área.”
“A Unesp é feita por pessoas e se essa interação não for propositiva, todos os problemas de saúde podem aparecer”, refletiu o anfitrião do evento, o diretor do IBB, Prof. Luiz Fernando Rolim de Almeida.
O pró-reitor de Planejamento Estratégico e Gestão (Propeg), Prof. Edson Capello, enalteceu a atividade e sugeriu que, nas próximas edições, sejam envolvidos também os estudantes e os docentes. “A pandemia evidenciou muitas das nossas fragilidades e a universidade pode e deve ser vanguarda na busca de soluções.”
“Isso não é assunto somente de mulher.”
A frase é da Profa. Dra. Percília Cardoso Giaquinto, do Instituto de Biociência (IB) de Botucatu, uma das palestrantes durante o Fórum Conjunto da Saúde. Ela falou sobre “Saúde e bem-estar da mulher no trabalho: Questões e estratégias” e expôs dados importantes para mostrar que o tema tem razões e consequências que vão além da individualidade feminina, repercutindo no ambiente de trabalho, na produtividade e na sociedade como um todo.
“A mulher vai passar a vida biológica reprodutiva em ambiente de trabalho, e na maioria das empresas e instituições isso é tratado como algo invisível, mas são questões inerentes à fisiologia feminina e precisam ser discutidas.”
A palestrante lamentou que, quando se fala em saúde e bem-estar, quase tudo acontece sob a ótica masculina, desde as pesquisas de novos medicamentos, até as orientações sobre primeiros socorros, sintomas iniciais de doenças etc. Ela citou o fato de que a maioria dos remédios e procedimentos é testada desde o início em animais machos e em homens. O sinal mais conhecido do AVC, por exemplo, o formigamento do lado esquerdo, é algo recorrente nos homens, mas não necessariamente na mulher, que pode ter a náusea como primeiro alerta. “As mulheres têm mais possibilidade de serem mal diagnosticadas e não serem levadas a sério”, pontuou.
Lembrando que, ao chegar ao ambiente de trabalho, a mulher não pode simplesmente se despir da sua fisiologia, a professora Percília criticou a recorrente orientação que a trabalhadora recebe, de deixar a mente “neutra” e “focar no trabalho”. “Ora, como ela poderia fazer isso?”
Sobre o mito de que no Brasil há ampla liberdade quando o assunto são as questões sexuais e reprodutivas, ela foi categórica: “Isso é falso. Aqui não conseguimos sequer conversar sobre saúde reprodutiva”, disse ao se referir a temas como menstruação, gravidez, fertilidade, sexo, menopausa; ou seja, “sobre a nossa saúde e sobre quem somos”.
Nesse sentido, a menopausa – período definido pelo término da menstruação e que marca o fim da fase reprodutiva da mulher, geralmente entre os 45 e 55 anos – é uma questão particularmente sensível. “Temos que abrir a conversa, constatar que os problemas existem e que são inerentes à fisiologia da mulher, que afetam a ela e ao desenvolvimento da economia em seu conjunto”, assinalou a professora ao apontar alguns caminhos: “Falta olhar e atuar para amenizar, falar sobre o assunto nas equipes e setores, formular políticas sobre a menopausa para a instituição, iniciar programas de sensibilização para a chegada deste período na vida da trabalhadora.”
“As conexões sociais são necessidades humanas profundas e determinantes para a nossa saúde física e nossa saúde mental, que não se separam.”
Com essa afirmação, a Profa. Dra. Albina Rodrigues Torres, da Faculdade de Medicina (FM) de Botucatu, abriu sua palestra durante o Fórum Conjunto da Saúde, intitulada “Conexões humanas e saúde’. Vinculação e pertencimento, nessa perspectiva, são necessidades humanas básicas.
A docente destacou que nosso sistema nervoso é construído a partir de estruturas cerebrais e nervosas destinadas a nos conectar socialmente. “Somos seres sociais interdependentes e nosso equilíbrio depende de interação, reciprocidade e conexões adequadas com outras pessoas, num processo de correlação emocional que ocorre o tempo todo, por toda a nossa vida”, assinalou a docente, lembrando que segurança e confiança acalmam nossa fisiologia, regulam órgãos e sistemas, emoções e comportamentos.
Resgatando os duros anos da pandemia de Covid-19, disse que, para além do perigo do vírus, que ceifou a vida de milhões de pessoas ao redor do mundo, não há dúvida de que o distanciamento social potencializou o sofrimento ao extremo. “Quando mais tivemos medo e insegurança, não podíamos estar com os outros.”
A palestrante fez um alerta sobre as redes sociais, que vêm ocupando um espaço cada vez maior na vida das pessoas, comparando-as a um “fast food relacional”: poucos nutrientes (ocitocina) e potencial para gerar dependência e overdose. “As redes não substituem o contato direto, o olho no olho, não nos dão bem-estar fisiológico e ampliam solidão e infelicidade”, criticou. Citando estudiosos, a professora opinou que as redes não poderiam preencher mais do que uma hora do nosso dia, sob o risco de aumentar a sensação de solidão e infelicidade, uma vez que estimulam a comparação com perfis falsos, nos quais as pessoas se apresentam sempre felizes e sorridentes, “comendo camarão em Paris”.
“Uma mãe que fica a maior parte do seu tempo em redes sociais gera um impacto sobre a criança que pode ser igual ao de uma situação em que ela enfrenta a depressão pós-parto”, comparou.
A professora Albina indicou alguns livros sobre o tema de sua palestra, entre eles “O poder das conexões”, de Nicholas Christakis e James Fowler, e “O poder curativo das relações humanas”, de Vivek Murthy.
O Fórum Conjunto da Saúde teve um período destinado à apresentação de painéis elaborados pelas seções técnicas de saúde (STS) de vários campi e, também, ao debate em grupos.
Divididos em quatro grupos, os participantes discutiram os temas abordados, levantaram problemas relacionados ao funcionamento das STS, como a falta de pessoal suficiente para dar conta das demandas da comunidade, e fizeram propostas diversas, que serão divulgadas posteriormente.
Entre elas, por exemplo, está a sugestão de um ‘Dia do bem-estar e espaço para conexões na Unesp”, a princípio anual e podendo ser semestral, dependendo da aceitação geral. Neste dia, haveria ofertas de serviços – vacinação, exames diversos, prevenção de doenças crônicas – e rodas de conversa e palestras.
Também foram feitas propostas para a ampliação dos canais de comunicação e de campanhas regulares sobre questões ligadas à saúde dos trabalhadores e estudantes da instituição.
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